Do Rio a Lisboa, entre o fascínio e o estudo dos antepassados, a percorrer trilhos e a coleccionar horas em escavações, o Victor é uma caixa de surpresas. O mundo das tatuagens trouxe-o a sul do Tejo e até à VULTO, onde entre tinta, sushi e amigos soltámos as palavras e demos a volta a este mundo jurássico que o acompanha.
Bem-vindo e obrigado por te juntares a nós! És do Rio, certo? Nascido e criado. Como é que chegas a Portugal?
Em primeiro lugar, obrigado pelo espaço. Bom, a respeito da origem “tuga” da minha família, o que resultou em muito bacalhau ao longo da minha vida, sim, eu nasci no Rio de Janeiro, uma cidade que eu amo muito, apesar dos pesares. A minha vinda a Portugal começa a formar raízes em 2011, quando eu ainda morava no Brasil e participei numa exposição de paleoarte* que teve início num congresso lá e terminou cá, em Portugal, numa outra exposição itinerante que percorreu alguns museus. Foi assim que tive o meu primeiro contacto com algumas instituições de ensino portuguesas nas áreas do Desenho e da Ilustração Científica, o que me fez vir fazer o meu mestrado na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa anos mais tarde.
*reconstituição artística de um organismo extinto, ou ambiente pré-histórico, de acordo com o conhecimento corrente e a evidência científica no momento da criação da obra de arte.
Enquanto estudas há um encontro que te leva a outros caminhos. Tatuar já estava nos planos?
Eu sempre tive curiosidade mas, por acaso, não. Ao longo da minha vida, nesse percurso de produção artística, já experimentei muitas técnicas: do 3D e da escultura à animação e o graffiti. Até à arte do bonsai eu já me dediquei muitos anos. Acho isso bastante importante para nos conhecermos e amadurecermos como “artistas”. Eu vejo a tatuagem como mais um tipo de arte nesse caldeirão de possibilidades. Mas, claro que ela possui as suas particularidades e requer muita seriedade e responsabilidade porque lidamos com a autoestima e a saúde dos nossos clientes. Mas, falando grosso modo, ao invés de estarmos a usar um papel Fabriano, aplicamos a tinta sob a derme das pessoas. A oportunidade para aprender este novo tipo de arte apareceu diante de mim e eu pensei “why not?”.
Almada surge na tua vida. Sentes-te em casa?
Amo Almada. Gosto do facto de a cidade ter todas as facilidades de uma cidade grande e ainda assim ter a sua tranquilidade, principalmente em comparação a Lisboa. Além disso, por ser menor, passamos a conhecer no quotidiano muitas pessoas que cá habitam.
Voltando um pouco atrás… tens uma grande paixão, e que te toma grande parte do tempo, por… dinossauros. Desde quando existe essa relação?
É verdade. Reconstituir dinossauros e trazê-los de volta à vida é uma tarefa que consome muito tempo mas é de certa forma prazerosa, porque nunca sabemos exactamente como será o resultado final. Bom, eu acho que os dinossauros causam fascínio em todas as crianças, principalmente tratando-se de um miúdo dos anos 90, logo após o lançamento do primeiro filme do Jurassic Park, no qual tudo, absolutamente tudo ao seu redor fazia referência ao tema (no meu caso). Eu lembro-me bem dessa época, foi um “boom” de dinossauros, que resultou numa nova geração de paleontólogos em todo o globo. Posteriormente, ainda na década de 90, influenciado pelas obras do artista inglês John Sibbick, juntei as minhas duas paixões, dinossauros e desenho, e nunca mais parei. Pouco a pouco, com o passar dos anos, os desenhos de criança foram sendo aprimorados e deram de encontro com o rigor científico, cujo prémio “Lanzendorf-National Geographic PaleoArt Prize” foi o culminar.
Qual foi a sensação de teres ganho o prémio internacional mais importante de paleoarte?
Para mim foi uma sensação de “feedback” extremamente positiva. De que eu estou a fazer a coisa certa como ilustrador científico. Não só por essa distinção ser organizada pela sociedade de paleontologia mais importante do mundo, a Society of Vertebrate Paleontology, com o contributo da National Geographic, como é o concurso de mais alto nível da área, devido ao nível dos participantes. É uma distinção que me deixou muito contente, porque actualmente eu compartilho esse título com uma lista muito selecta de artistas, dos quais alguns eu admiro há anos.